quinta-feira, 4 de junho de 2009

AS SETE ÚLTIMAS PALAVRAS DE CRISTO


Primeira Palavra:

"Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem" - São Lucas 23: 34.

Nessa primeira frase, tão indefesa quanto uma criança, ainda assim Jesus testemunha quando era uma "criança em Cristo". Ao afirmar seu reconhecimento do Pai, evocava Seu perdão para aqueles que pecavam. Em muitos casos, o pecado é sinônimo de ignorância, mas onde há ignorância não pode haver pecado. O perdão é o resultado de processos vivos que produzem aquela atitude na qual o homem deixa de ser ensimesmado e, por conseguinte, passa a amar e ser misercordioso, como o Pai do Céu é misericordioso. A vida e a experiência nos proporcionam isso e não há como impedir o processo. O que nos põe de bem com Deus não é uma crença teológica, mas sim uma atitude para com a vida e para com o Cristo que habita no coração do homem. Nós aprendemos a não pecar por meio do amor gratuito de doação integral pelo outro, à semelhança de Cristo, nosso Salvador.

Segunda Palavra :

"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso" - São Lucas 23 : 43

Foi focalizando os pecados que Jesus assegurou a um pecador confesso um lugar a Seu lado no Paraíso. E por que o fez? Porque aquele homem - o "bom ladrão" - soube reconhecer duas coisas: uma, a natureza divina de Cristo e outra, que Cristo trazia uma missão, ou seja, a de fundar um Reino. Se fosse hoje, dois mil anos após esses acontecimentos, certamente Jesus usaria outra linguagem. Provavelmente diria em vez de "Reino de Deus" o "estado de espirito pleno da Graça de Deus, mergulhado no Amor divino, em que Ele nos capacita a conhecê-Lo plenamente e se dá a ser por nós conhecido e adorado Face a Face, em espírito e verdade". Nas águas do Jordão, no Batismo realizado por João, Jesus começaria sua vida pública, para anunciar esta realidade do "Reinado de Deus em nossas vidas"; em sua vida que culminou na Cruz, submeteu-se ao batismo do fogo e do sofrimento. Ultrapassando este, houve a "entrada no Paraíso", com três palavras para identificar tal condição : Felicidade, a vocação do ser humano; Alegria, o sentimento frente ao que é bom, belo, saudável, para nós; e Bem-aventurança, que é uma expressão da Divindade e do Espírito.

Terceira Palavra :

"Mulher, este é o seu filho, eis aqui a tua mãe!" - São João 19 : 26 João, o Evangelista.

Este é um dos pontos mais altos de perfeição do Amor Divino, a se irradiar por nós. Estando na Cruz, Jesus se preocupa tanto conosco, que não só pede ao Pai por nós, para fechar os olhos às nossas culpas, mas nos deixa uma Mãe para nos consolar. Tenhamos presente que a Segunda Pessoa da Divina Trindade é o Filho de Deus, o Amor que veio se fazer Carne. Já Maria representa a Natureza Humana que O acolhe e O gesta em seu íntimo, dizendo 'Sim' ao projeto de Deus, por mais difícil que fosse, por puro amor e confiança em Deus, sendo o modelo da perfeita cristã para nós seguirmos Seu Filho. Na prática a Virgem Maria é glorificada por meio através desse Filho. Nesta frase Jesus aponta para a solução do problema familiar da atualidade, onde, segundo ele, mesmo antecipada, voltam-se pais contra filhos e irmão contra irmão. É que há dois tipos de família: uma biológica, a dos laços sangüíneos, cada vez mais difícil de ser mantida, e a outra, a espiritual, que une as pessoas por suas afinidade de alma. Maria não era mãe biológica do discípulo por Ele amado (João), mas tornou-se desse momento em diante a Mãe espiritual de todos os discípulos que amam a Jesus. Era como se voltasse a afirmar: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem e seguem meus Ensinamentos". Maria é, por causa do próprio Cristo, a Mãe que todas as gerações doravante chamarão de bem aventurada (Lc 1, 48), e que não se cansa de revelar o seu Filho para que nós adoremos (Mt 2, 11) e nos apontar Jesus, dizendo-nos "Fazei tudo o que Ele vos disser" (Jo 2, 5).

Quarta Palavra :

"Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" - São Marcos 15 : 34 e São Mateus 27 : 46

É narrado no Evangelhos que, pouco antes da Paixão, ao fim da Santa Ceia, Jesus e seus discípulos "tendo cantado hinos, saíram para o Monte das Oliveiras" (Mc 14, 26 e Mt 26, 30). Os hinos cantados pelos judeus, especialmente ao fim das ceias, e ainda mais próximo do período da Páscoa, eram sempre os salmos. Jesus e seus discípulos conheciam os salmos, os meditavam, e por diversas vezes Jesus citou os Salmos em suas pregações. Na hora de seu maior sofrimento, na Cruz, Jesus cita o primeiro verso do Salmo 22. Como se sabe, nas escrituras judaicas ainda não havia títulos nas passagens, nem divisão por capítulos, ou versículos. Cada livro era um rolo de pergaminho, e os livros eram identificados pelas primeiras palavras que se liam no início de cada rolo. Assim, o livro que chamamos de Gênesis era por eles referido simplesmente como "No Princípio". Citar o primeiro verso significava, naquele contexto histórico e cultural, fazer alusão ao livro ou passagem inteiramente. Era como se Jesus, com suas últimas forças, além de expressar sua angústia e sofrimento, estivesse querendo que os discípulos não esquecessem do teor do Salmo 22, no qual se lê:

'Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?'(v.1)

'Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me veem zombam de mim' (v.6s)

'Contudo tu és quem me faz nascer e preservaste, estando eu ainda no seio de minha mãe. A ti me entreguei desde o meu nascimento, desde o ventre de minha mãe tu és meu Deus. Não te distancies de mim porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda' (v.9-11)

'Contra mim abrem as bocas como faz o leão que despedaça e ruge. Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram, meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim. Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega o céu da boca; assim me deitas no pó da morte.' (v.13-15)

'Cães me cercam; um bando de malfeitores me rodeia; transpassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus ossos; e eles me estão olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnca rolam a sorte. Tu porém, Senhor, não te afastes de mim. Força minha, apressa-te em socorrer-me' (v.16-19)

'Os sofredores hão de comer e fartar-se. louvarão o senhor os que o buscam. viva para sempre o vosso coração. Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as nações. Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações. Todos os opulentos da terra hão de comer e adorar, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante a ele, até aquele que não pode preservar a própria vida. A posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor à geração vindoura. Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez' (v.26ss)

Trata-se pois de um hino que espelha com precisão assombrosa o que o próprio Cristo passava e iria passar. Ainda que o Cristo não bradasse, alguém certamente acabaria fazendo essa associação, mas Ele mesmo o fez. Com base nas escrituras, Jesus já sabia tudo o que iria passar. É o que se vê por exemplo, no livro do Profeta Isaías, capítulo 53, escrito séculos antes de Cristo e já sagrado para os judeus muito antes de também o ser para os cristãos:

'Ele não tinha aparência, nem formosura. Olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto, era deprezado, e dele não fizemos caso. Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.' (v.2-5)

'Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante seus tosquiadores, ele não abriu a boca' (v.7)

'Foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo foi ferido; Designaram-lhe a sepultura com os perversos' (v.8b-9a)

'Após suportar em sua pessoa os tormentos, Ele verá o fruto de seu penoso trabalho, e ficará satisfeito. O meu Servo, o Justo, justificará a muitos a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso eu lhe darei muitos como a sua parte com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os trangressores, contudo levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu.' (v.11s)

Jesus cumpriu todas essas profecias e realizou tudo o que diziam as escrituras. E com seu brado, além de exprimir seu profundo sofrimento, advindo de sua natureza humana, lembrava a todos que Ele era também o Servo Justo de Deus, o Messias, alguém da natureza divina de quem há muito falavam os textos sagrados, vindo da parte de Deus para libertar os humanos de suas iniquidades.

Quinta Palavra :

"Tenho sede!" - São João 19 : 29

E logo, erradamente, lhe deram vinagre. É verdade que a natureza humana de Jesus estava clamando por algum líquido, mas é muito mais verdade que a natureza divina de Jesus queria ser saciada. Ao assumir a tarefa de Salvador, Ele decidiu permanecer com a humanidade para nos ajudar a crescer até que todos os filhos de Deus encontrem seu caminho de volta para a Casa do Pai. A sede, assim experimentada, é a sede do Salvador, de Quem sabe o que tem a fazer, de Quem não tem tempo a perder. Para meditar sobre a sede de Jesus, é preciso recordar suas palavras ao proferir o Sermão da Montanha: "Bem aventurados os que tem fome e SEDE de Justiça, porque serão saciados" (Mt5, 6). Chegava o momento em que essa SEDE levaria Jesus a beber de um cálice cuja bebida era tão letal e amarga que o próprio Cristo dissera: "Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade" (Mt 26, 42b). Jesus tem SEDE para que a Justiça aconteça no seu Sangue. Ele incita em nós essa SEDE, como o fez com os seus apóstolos naquela Quinta Feira Santa, no momento da Ceia: "A Seguir, Jesus tomou o Cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado por muitos, para a remissão dos pecados." (Mt 26, 28) Assim, esse mesmo Jesus que diz, tão humanamente, "Dá-me de beber" (Jo 4,7) é o mesmo Jesus que diz, tão divinamente, "Se conhecesses o dom de Deus e quem é este que te pede dá-me de beber, Tu é que lhe pedirias, e ele te daria Água Viva. E aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que lhe der será nele uma fonte a jorrar par Vida Eterna" (Jo 4, 10b. 14) Jesus parece pedir para despertar a misericórdia nos homens, lembrando que no dia do julgamento ele chamará a esses misericordiosos dizendo: "Vinde benditos de meu Pai Entrai na posse do Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber" (Mt 26, 34-35a). Infelizmente, os que não agem com misericórdia, não entrarão no Reino dos Céus. Não podemos deixar de citar também que tudo isso foi assim para que se cumprisse o que o próprio Jesus predissera "E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videia, até aquele dia em que hei de beber de novo, convosco, no reino de meu Pai" (Mt 26, 29) Assim, o vinho que poderia ter sido oferecido a Jesus, foi substituído pelo vinagre.

Sexta Palavra :

"Está consumado! " - São João 19 : 30

Esta frase evidencia que Sua intenção estava coroada de êxito : ele fizera aquilo para que encarnara. Sua sede pelas almas dos homens O levara a forçar a abertura da porta da Natureza Divina do homem e a mantê-la aberta para nós. E o portão para o Reino permaneceu aberto, pois ele mostrará o caminho. Podia exclamar em triunfo "Está consumado!" Isto significa que Seu trabalho foi cumprido. Pois Jesus é cumprimento pleno de todas as promessas do Pai. Não é um brado de agonia, mas de triunfo, uma exclamação de alegria, pois a dor chegava ao seu fim, e antevinha o repouso, e a Glória. Regozijemo-nos com Cristo, nosso Salvador por Seu sacrifício anual ter chegado ao fim; sejamos gratos, no mais íntimo de nosso ser por ele estar livre das correntes da Terra e que a vida que derramou em nosso planeta seja suficiente para levar-nos à Salvação!

Sétima Palavra :

"Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito!" - São Lucas 23 : 46

É o Espírito da Vida no Cristo e também em nós, que nos faz filhos de Deus e garante nossa realização final. Todas as barreiras de separação foram abolidas. O Reino de Deus existe e através do Cristo aguarda expressão em cada um de nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário