quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Igreja não encobriu sacerdote envolvido em massacre do IRA


ARMAGH, quarta-feira, 25 de agosto de 2010 (ZENIT.org) – A Igreja nunca encobriu o sacerdote James Chesney em seu suposto envolvimento no atentado de Claudy (Londonderry) nos anos setenta, nem se opôs a que ele fosse detido ou interrogado pelo episódio, ainda que isso não tenha ocorrido.

É o que afirma o cardeal Sean Brady, arcebispo de Armagh e primaz da Irlanda, e Dom Seamus Hegarty, bispo de Derry, em comunicado conjunto publicado nessa terça-feira, em resposta a um relatório da polícia da Irlanda do Norte, em que se mostram as conclusões das novas investigações sobre o caso Claudy.

Em 31 de julho de 1972, três carros bomba explodiram na rua principal de Claudy, um pequeno povoado de cerca de mil habitantes no município de Londonderry (Irlanda do Norte). Morreram 9 pessoas, entre elas uma criança de nove anos, e várias pessoas ficaram feridas.

Ainda que nenhum grupo paramilitar reivindicasse a autoria do atentado, suspeitou-se desde o início do IRA. Segundo o comunicado publicado pela polícia da Irlanda do Norte (RUC), o padre James Chesney, então pároco em Cullion, estava diretamente envolvido no massacre, e foi considerado suspeito, ainda que nunca tenha sido interrogado pela polícia.

Ele foi interrogado, no entanto, pelo então bispo de Derry, Dom Neil Farren, e por seu sucessor, Dom Edward Daly, e em ambos casos o sacerdote negou sua participação nos fatos. Também foi informado ao cardeal William Conway, então arcebispo de Armagh.

Em 1978, decidiram transferir Chesney para uma paróquia do município de Donegal, onde ele faleceu dois anos depois.

Em seu comunicado de ontem, os bispos afirmam que a Igreja nunca encobriu este caso, mas o episódio “deveria ter sido devidamente investigado e resolvido durante a vida de Pe. Chesney”. Segundo a nota, “havia suficientes provas que o vinculavam à atividade criminosa; ele deveria ter sido interrogado e detido na primeira oportunidade, como qualquer outra pessoa”.

O comunicado cita uma das passagens do próprio relatório policial, o qual afirma que “no que se refere ao papel da Igreja Católica, quando foi informada sobre as preocupações sobre um de seus sacerdotes, interrogaram o Pe. Chesney sobre suas atividades alegadas, as quais ele negou. No decorrer da investigação, a RUC não encontrou provas de intenção criminosa por parte de nenhum representante da Igreja (6.24)”.

A Igreja, posteriormente, “informou o Estado sobre os resultados do interrogatório do Pe. Chesney sobre suas atitudes. As ações do cardeal Conway ou qualquer outra autoridade da Igreja não impediram a possibilidade da detenção e do posterior interrogatório de Chesney”, afirma o comunicado dos bispos.

Como reconhece o próprio relatório da RUC, “o Pe. Chesney, até o momento de sua morte, em 1980, ‘viajava regularmente pela fronteira, mas nunca foi detido ou interrogado, nem a RUC investigou a fundo em relação com os atentados de Claudy ou outras atividades terroristas’ (6.12)”.

Naqueles difíceis anos, recordam os bispos, “a Igreja Católica, junto com outras Igrejas da Irlanda do Norte, foi constante em sua condenação do mal da violência”. Por isso, afirmam que “é impactante que um sacerdote seja suspeito de envolvimento na violência”.

Descobrir a verdade

Os bispos pedem também aos fiéis que colaborem no esclarecimento da autoria do atentado, e afirmam que a informação que a Igreja tinha sobre Pe. Chesney está em poder da polícia.

O atentado de Clady “foi um crime horrendo”, destaca a nota. “Não podemos esquecer o terrível sacrifício humano desta atrocidade. Nove pessoas morreram, incluindo crianças. Muitos se feriram.

“O Pe. Chesney morreu e, como suspeito do atentado de Claudy, está além da justiça dos tribunais humanos. Está claro que houve mais pessoas envolvidas no planejamento e realização desta terrível atrocidade, e alguns deles devem ainda estar vivos.”

Os prelados afirmam que as vítimas “têm direito de saber a verdade” e por isso convocam “qualquer um que tenha informações em relação a este horrível crime a que entreguem à Polícia da Irlanda do Norte”.

“Somente com honra e valentia poderemos enfrentar como comunidade estes casos dolorosos e fazer todo possível para garantir que com as terríveis lições do passado se aprenda algo e não deixe que se repepita”, conclui a declaração.

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