segunda-feira, 11 de julho de 2011

A PALAVRA A SER OUVIDA E ASSIMILADA - Dom Mauro Montagnoli

Diz o Evangelho que “Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galiléia” (Mt 13,1-9). Uma multidão se reuniu em torno dele. Como estavam à beira do mar, Jesus entra numa barca para, de lá, falar àquele povo todo. Fala em parábolas. Ele conta a parábola do agricultor que vai semaear o campo.
A parábola conta que parte da semente caiu à beira do caminho, outra caiu em terreno de muita pedra, outra caiu no meio de espinhos e ainda outra caiu em terra boa.
As sementes que caíram à beira do caminho foram comidas pelos passarinhos. As que caíram em terreno pedregoso, depois de nascidas, acabaram queimadas pelo sol, porque não tinham raiz suficiente. As que caíram no meio de espinhos, depois de nascidas e crescidas, acabaram sufocadas pelos espinheiros. As que caíram em terra boa nasceram sadias, cresceram e produziram abundante semente.
Jesus está se refere à Palavra de Deus. Já no Antigo Testamento Deus usa a mesma figura de linguagem para se referir à sua Palavra: “Assim como a chuva cai do céu e faz frutificar a terra, assim é a Palavra que sai da minha boca. Ela não volta vazia. Antes, ela realiza tudo o que planejei e produz os efeitos que sonhei” (Is 55,10-11).
O que será que Deus está a nos dizer, ao insistir sobre a importância de sua Palavra?
Para a linguagem bíblica, a Palavra é muito mais que um som vocálico; ela manifesta a própria essência de Deus. A Palavra (em hebraico: dabbar) é bem mais que a pronúncia de sons; significa o que está por trás, ou seja, o coração, a força, a essência de quem fala. A Palavra de Deus, portanto, é a própria essência de Deus que age nos acontecimentos, transformando tudo em libertação e vida.
Quando Jesus conta a parábola do semeador, ele está falando de si mesmo. Ele é a própria Palavra viva do Pai, encarnada , ou seja, ele é o verdadeiro acontecimento divino de salvação no meio de nós, a presença viva do mistério salvador do Pai. Acontece que a própria Palavra, que é Jesus, nos leva pela parábola a constatar uma triste situação: diante deste acontecimento de salvação que ele é, há pessoas que ouvem e veem exteriormente, mas não percebem interiormente o que este acontecimento significa. São os de ‘coração insensível’, gente tão fechada, travada, cheia de máscaras e couraças criadas pelos apegos e pelas preocupações deste mundo, que ouve de má vontade e fecha seus olhos, para não ver nem ouvir, nem compreender com o coração, perdendo a chance de se converter e ser curada pela Palavra. A Palavra não cria raízes em tais pessoas. E as causas de tudo isso, onde estão? Jesus mesmo as diz: é “o ‘maligno’, isto é, as forças contrárias a Jesus e ao Reino de Deus, a superficialidade, a desistência na hora da dificuldade, as ‘preocupações do mundo e a ilusão da riqueza”. Tais causas, ainda hoje são as mesmas: as forças antievangélicas, o consumismo, a idolatria da riqueza.
Graças a Deus, há, no entanto, gente que “ouve a Palavra e a compreende”. Pessoas simples que, por serem assim, acolhem e assimilam facilmente e em profundidade a Palavra, Jesus e produzem abundantes frutos de solidariedade, justiça, paz.
Rezamos: “Deus, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome”.
É importante o trabalho de conversão e assimilação da Palavra que é Jesus, o Cristo, ressuscitado. Sejamos assíduos nesse trabalho, pois, “os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós” (Rm 8,18-23).

Dom Mauro Montagnoli
Bispo Diocesano de Ilhéus

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