quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Não há reforma da Igreja sem conversão

Apesar de ser o sobrinho de um papa e tendo vivido a maior parte de sua vida nos "ambientes mundanos" do governo e da diplomacia, o Papa não hesitou em propor hoje a figura de São Roberto Belarmino, como modelo de bispo "simples e cheio de zelo apostólico".

Deste santo, que escreveu várias obras de espiritualidade e doutrina, além de ter contribuído grandemente para a Igreja dos séculos XVI e XVII, o Papa quis destacar seu perfil como um homem de oração e contemplação.

"Belarmino ensina com muita clareza e com o exemplo de sua própria vida que não pode haver uma verdadeira reforma da Igreja, se antes não acontece nossa reforma pessoal e a conversão do nosso coração", sublinhou o Papa.

Roberto Belarmino (1542-1621) foi uma figura fundamental para a Igreja da Contrarreforma, ao sistematizar a concepção da Igreja, em resposta à crise provocada pela Reforma luterana.

Nascido em Montepulciano (Itália), entrou muito jovem na Companhia de Jesus. Primeiramente, foi professor de teologia em Lovaina e Roma, época em que elaborou uma de suas obras mais famosas, Controvérsia.

"O Concílio de Trento tinha terminado pouco tempo antes e, para a Igreja Católica, era necessário reforçar e confirmar sua identidade também no que diz respeito à Reforma Protestante. A ação de Belarmino se insere neste contexto", explicou o Pontífice.

Sua obra constitui, afirmou, "um ponto de referência, ainda válido para a eclesiologia católica, sobre as questões acerca da Revelação, da natureza da Igreja, dos sacramentos e da antropologia teológica".

"Nelas, acentua-se o aspecto institucional da Igreja, devido aos erros que estavam circulando sobre tais questões."

Nesta obra monumental, que tenta sistematizar as várias controvérsias teológicas da época, o santo "evita todo tom polêmico e agressivo com relação às ideias da Reforma, usando os argumentos da razão e da Tradição da Igreja para ilustrar de maneira clara e eficaz a doutrina católica", destacou o Papa.

Apesar de ser brilhante como teólogo, prosseguiu o Papa, seu legado "consiste na maneira como ele concebeu seu trabalho. Os trabalhos tediosos de governo não o impediram, de fato, de caminhar rumo à santidade, na fidelidade às exigências do seu próprio estado de religioso, sacerdote e bispo".

"Sendo - como sacerdote e bispo -, em primeiro lugar, um pastor de almas, ele sentiu o dever de pregar assiduamente", explicou.

"Sua pregação e suas catequeses têm esse mesmo caráter de simplicidade que ele recebeu da educação jesuíta, toda dirigida a concentrar as forças da alma em Jesus, profundamente conhecido, amado e imitado."

São Belarmino oferece "um modelo de oração, a alma de toda atividade: uma oração que escuta a Palavra do Senhor, que é preenchida com a contemplação da grandeza, que não se fecha em si mesma, que se alegra em abandonar-se nas mãos de Deus".

O santo, "que viveu na pomposa e muitas vezes insalubre sociedade dos últimos anos do século XVI e início do século XVII, esta contemplação inclui aplicações práticas e projeta a situação da Igreja do seu tempo com a corajosa inspiração pastoral".

Suas obras, concluiu o Papa, "nos lembram que o objetivo da vida é o Senhor, o Deus que se revelou em Jesus Cristo, em quem Ele continua nos chamando e prometendo-nos a comunhão com Ele".

"Elas nos recordam a importância de confiar no Senhor, de viver uma vida fiel ao Evangelho, de aceitar e iluminar, com a fé e a oração, toda circunstância e toda ação da nossa vida, sempre ansiando a união com Ele."

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