sexta-feira, 25 de março de 2011

40 anos de serviço à civilização europeia

No próximo dia 25 de março, o Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) cumprirá 40 anos.

Este é um aniversário importante para uma instituição que não é muito conhecida, mas que tem desempenhado um papel importante no crescimento e realização da civilização europeia moderna.

O CCEE está composto por 33 conferências episcopais de vários países europeus. No encontro de fundação, em 18 de novembro de 1965, eram apenas 13 os presidentes das conferências episcopais presentes.

O objetivo era promover a colaboração entre os bispos da Europa, com finalidades dirigidas ao bem comum e à realização da missão cristã.

Mas não se trata apenas de uma instituição de união: o CCEE procura levar a cabo um papel de responsabilidade paternal em relação aos povos, crentes ou não, da Europa.

Para entender melhor a história, objetivos e propostas do CCEE, em face ao crescimento da civilização europeia, ZENIT entrevistou o cardeal Péter Erdö, arcebispo de Esterzgom-Budapeste, primaz da Hungria e presidente do CCEE.

ZENIT: Em 25 de março, o CCEE cumprirá 40 anos. O que ele é exatamente e como nasceu?

Cardeal Erdö: O Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) está a serviço da colegialidade entre as conferências episcopais da Europa. A primeira tarefa do CCEE é promover a colaboração entre os bispos da Europa. O CCEE é destinado à custódia do bem da Igreja e à promoção do cumprimento da sua missão. Tem um papel consultivo: cultivar o espírito colegial e realizar uma maior cooperação e comunhão entre as conferências episcopais. A colaboração se dá através de consultas, especialmente durante a reunião plenária anual, que envolvem os presidentes de cada conferência episcopal.

No final do Concílio Vaticano II, em 18 de novembro de 1965, foi realizada uma reunião dos presidentes de 13 conferências episcopais da Europa. Eles criaram uma comissão, composta por seis delegados das conferências episcopais e um secretário de ligação, para que pensasse na futura colaboração entre as conferências episcopais da Europa. A responsabilidade foi confiada a Dom Etchegaray. A comissão tinha uma dupla tarefa: estudar os elementos necessários para uma colaboração efetiva e estabelecer e definir as áreas pastorais para as quais a colaboração era particularmente necessária e urgente. Nos dias 23 e 24 de março de 1971, realizou-se, sempre em Roma, a Assembleia Constituinte do CCEE.

No começo, a Assembleia Plenária era realizada com os delegados das conferências episcopais. Em 1986, havia 25 membros e os episcopados de quase todos os Estados europeus tinham um representante. Em 1995, os membros já eram 34 e atualmente são 37 (33 conferências episcopais e 4 bispos não-membros das conferências episcopais: Luxemburgo, Mônaco, República da Moldávia e Chipre. O CCEE abrange essa parte da Europa que não pertence à União Europeia, incluindo a Rússia e a Turquia. Os novos estatutos foram aprovados pela Congregação para os Bispos em 2 dezembro de 1995.

ZENIT: Se o senhor tivesse que escolher momentos significativos nas atividades do CCEE nos últimos 40 anos, quais mencionaria?

Cardeal Erdö: Desde a época antes da minha participação pessoal, conheço os principais acontecimentos, sobretudo baseados nos relatos do primeiro presidente, o cardeal Etchegaray, que falou desta iniciativa com entusiasmo. Em suas palavras, sempre senti esse dinamismo do Espírito Santo, que também se manifestou no Concílio Vaticano II e que contribuiu para o aprofundamento dessa realidade teológica, conhecida desde sempre, que chamamos de colegialidade episcopal.

Da minha experiência pessoal, lembro-me de uma reunião em Munique, com Dom Ivo Fürer, então secretário-geral do CCEE, e com o excelente canonista alemão Heribert Schmitz. Nós estávamos trabalhando no estatuto do CCEE. Assim, nosso trabalho foi feito de acordo com o CIC de 1983 e o Código dos Cânones das Igrejas Orientais de 1990. É realmente uma força das conferências continentais a unidade com a Igreja universal, especialmente com o Sucessor de Pedro.

Outra experiência significativa também é a reunião anual dos bispos orientais católicos europeus. Esta iniciativa é realizada há vários anos sob o patrocínio do CCEE, no sinal da igual dignidade de todas as Igrejas católicas ‘sui iuris', que estão em plena comunhão com a Igreja de Roma. A unidade na diversidade dentro da Igreja Católica é uma força que pode ajudar a aproximar os diversos povos do nosso continente, tão atormentado na história.

Outra lembrança inesquecível foi a oração dos bispos em Fátima, em 2007, quando confiamos nosso continente à proteção materna da Virgem Maria; e também a reunião dos bispos do Sudeste Europeu, realizada em 2009, na Turquia, visitando Tarso e outros locais de importância na vida de São Paulo, pedindo-lhe que intercedesse pelo despertar da evangelização no nosso continente. O anfitrião desta vez foi o saudoso bispo Dom Luigi Padovese.

ZENIT: Entre os objetivos do CCEE, também está o apoio ao desenvolvimento das relações ecumênicas. Como o CCEE pode realizar essa missão e quais são seus interlocutores?

Cardeal Erdö: As reuniões do comitê CCEE-KEK, que permitem um trabalho comum da nossa presidência com a presidência da KEK (organização europeia dos outros cristãos, ortodoxos, protestantes e anglicanos), confirmam a responsabilidade comum pela vida do nosso continente.

Foi especialmente importante o encontro ecumênico europeu de Sibiu (Romênia), em 2007. Outra experiência muito encorajadora foi o fórum católico-ortodoxo (FCO) europeu, que permite que a nossa organização - sempre em contato com a Santa Sé - trabalhe em conjunto com os representantes de todas as Igrejas Ortodoxas da Europa. Estes fóruns, que parecem assumir um ritmo bienal, não constituem uma nova organização, mas sempre se dedicam a alguma questão da vida moral e social do nosso continente. Descobrimos com alegria que as nossas posições teológicas são tão próximas, que permitem posições comuns em importantes campos práticos. O diálogo teológico-dogmático tem lugar entre as igrejas através de outras estruturas católicas, sob a orientação do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Anais do II Fórum católico-ortodoxo sobre as relações Igreja-Estado, perspectivas teológicas e históricas, serão apresentados em Roma em novembro próximo.

ZENIT: Há várias sombras que ameaçam a Europa, incluindo o colapso demográfico, a separação e a divisão das famílias, certa ambiguidade sobre o reconhecimento da identidade cristã, o crescimento de uma cultura que quer permitir várias formas de eutanásia, o desaparecimento de Deus da vida cotidiana... Frente a um horizonte que parece confuso, como o CCEE pretende fazer brilhar a luz de um novo renascimento cristão?


Cardeal Erdö: Já nos estatutos do CCEE está escrito que a nova evangelização está entre suas prioridades. Agora, o Papa criou um dicastério para a promoção da Nova Evangelização e, em 2012, se realizará o Sínodo dos Bispos sobre este tema. Em Zagreb, em 2010, tivemos uma assembleia plenária sobre "Demografia e vida na Europa". Cada um dos nossos encontros anuais - e também este último - é precedido por uma pesquisa detalhada sobre o assunto para apreciação. Esta pesquisa aborda todos os países europeus. Os resultados são coletados, avaliados, discutidos e apresentados à Assembleia.

Para a nossa Assembleia Plenária de 2011, em Tirana (Albânia), o tema será a Nova Evangelização.

ZENIT: Quanto à missão do bispo, neste contexto, sabemos que ele é um pastor de almas, mas também uma figura importante no âmbito civil e social. Como podemos levar os ensinamentos da Igreja também a uma área de grande interesse público?

Cardeal Erdö: O bispo deve ajudar e incentivar os leigos para o desenvolvimento da sociedade secular, no espírito do Evangelho, segundo os valores mais profundamente humanos, iluminados pela fé cristã.

Quanto à participação dos bispos na direção política e civil dos países europeus, esta é uma clara mudança. No final da Antiguidade, muitas cidades ficaram sem o governo civil; quem poderia defender os interesses da comunidade? Muitas vezes era o bispo quem acabava assumindo este papel.

Na era moderna, alguns bispos e cardeais, como Mendoza, Jiménez de Cisneros, Richelieux, assumiram inclusive o papel de regente de seu país.

Hoje em dia, o Direito Canônico proíbe os clérigos de executar funções que envolvam o exercício do poder estatal. São os leigos que - também segundo o Concílio Vaticano II - têm uma vocação especial de transformar o mundo no sentido do Evangelho (cf. CIC, cân. 227, ‘Apostolicam Actuositatem' 7b).

Fonte: Zenit

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