sexta-feira, 11 de março de 2011

Em seu novo livro, Bento XVI quer encontrar o “Jesus real”


"Este é o primeiro livro de teologia que me transmite uma verdadeira emoção: tirou-me lágrimas”, confiava hoje um jornalista “vaticanista” italiano a seus colegas, após ter lido o segundo volume da obra de Bento XVI sobre Jesus, “Jesus de Nazaré, Da entrada em Jerusalém até à Ressurreição” (Principia Editora, Portugal).

Que método o Papa utiliza para alcançar tal resultado? Se bem que se trata de um livro de rigorosa pesquisa, chega a conclusões como esta: “A vitória do amor será a última palavra da história do mundo” (trad. livre, N. do T.).

Encontramo-nos ante uma exegese (a interpretação da Sagrada Escritura) que comunica a esperança de “encontrar Jesus e crer n’Ele”. Aplica as indicações do Concílio Vaticano II na “Dei Verbum” – não suficientemente exploradas –, e cita recentes publicações alemãs.

O Papa explica seu método no prólogo. Cita autores (dos quais faz rigorosamente referência em uma bibliografia abundante, ainda que não asfixiante”: Martin Hengel, Peter Stuhlmacher e Franz Mußner, os quais lhe “confirmaram explicitamente no projeto de avançar” neste trabalho e “de acabar a obra iniciada”: “um precioso alento”.

Evoca também o “Jesus” publicado em 2008 pelo que ele chama de “irmão ecumênico”, o teólogo protestante Joachim Ringleben. Sublinha que entre os dois livros há uma “profunda unidade na compreensão essencial da pessoa de Jesus e de sua mensagem”.

E acrescenta: “Se bem que com enfoques diferentes, é a mesma fé que atua, produzindo um encontro com o mesmo Senhor Jesus”. O Papa espera que ambas publicações possam constituir “um testemunho ecumênico que ao seu modo possa servir à missão fundamental comum dos cristãos”.

Cita também o livro de crítica bíblica de Marius Reiser, de 2007, do qual recolhe “indicações relevantes para as novas vias da exegese, sem abandonar a importância que sempre tem o método histórico-crítico”.

Harmonizar dois métodos de interpretação

O Papa, de fato, sublinha os frutos do método histórico-crítico, o estudo das Escrituras à luz das circunstâncias históricas. “Uma coisa me parece óbvia: em duzentos anos de trabalho exegético, a interpretação histórico-crítica já deu o que tinha de dar de essencial”.

Mas para que a exegese possa se renovar, o Papa considera que é necessário que dê “um passo metodologicamente novo, voltando a se reconhecer como disciplina teológica, sem renunciar a seu caráter histórico”.

Ele propõe passar de uma “hermenêutica positivista” a uma “hermenêutica da fé”, desenvolvida de maneira concreta”, de modo “conforme ao texto”, unindo-se a uma “hermenêutica histórica, consciente de seus próprios limites para formar uma totalidade metodológica”.

“Esta articulação entre dois gêneros de hermenêutica muito diferentes entre si é uma tarefa que há de se realizar sempre de novo”, afirma.

Um passo na direção adequada

Ele acrescenta que a harmonia entre “hermenêutica da fé” e “hermenêutica histórica” não só é possível, mas sobretudo fecunda: “por meio dela as grande intuições da exegese patrística poderão voltar a dar fruto em um contexto novo”, como consegue fazer precisamente Marius Reiser.

Modestamente, reconhece: "Não pretendo afirmar que em meu livro esteja já totalmente acabada esta integração das duas hermenêuticas. Mas espero ter dado um passo em tal direção. No fundo, trata-se de retomar finalmente os princípios metodológicos para a exegese formulados pelo Concílio Vaticano II (cf. “Dei Verbum” 12), uma tarefa em que, infelizmente, pouco ou nada se fez até agora”.

No mesmo prólogo, o Papa recorda que não quis escrever uma “Vida de Jesus”. O que busca, recorda citando o primeiro volume desta obra, é apresentar “a figura e a mensagem de Jesus”.

“Poder-se-ia dizer, exagerando um pouco, que eu queria encontrar o Jesus real”. O “Jesus histórico” que alguns teólogos e exegetas apresentam “é demasiado insignificante”, “está excessivamente ambientado no passado para dar boas possibilidades de uma relação com Ele”.

Com a hermenêutica da fé e a hermenêutica histórica, o Papa tentou “desenvolver um olhar para o Jesus dos Evangelhos, um ouvi-lo que pudesse se converter em um encontro; mas também na escuta em comunhão com os discípulos de Jesus de todos os tempos, chegar à certeza da figura realmente histórica de Jesus”.

O bispo de Roma reconhece que este objetivo era mais difícil no segundo volume, porque toca os momentos culminantes da morte e ressurreição.

“Tentei me manter à margem das possíveis controvérsias sobre muitos elementos particulares e refletir unicamente sobre as palavras e as ações essenciais de Jesus. E isso guiado pela hermenêutica da fé, mas tendo em conta ao mesmo tempo, com responsabilidade, a razão histórica, necessariamente incluída nesta mesma fé”.

“Ainda que sempre ficarão naturalmente detalhes a discutir, espero no entanto que tenha podido me aproximar da figura de Nosso Senhor de um modo que possa ser útil a todos os leitores que desejam se encontrar com Jesus e crer n’Ele”, conclui.

Talvez seja este encontro que tenha suscitado a “emoção profunda” do jornalista italiano.

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