segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Cristãos devem ser uma “força pacífica de mudança”, diz Papa


CARPINETO ROMANO, domingo, 5 de setembro de 2010 (ZENIT.org) – Os cristãos, movidos por sua fé e amor a Deus, devem ser uma “força benéfica e pacífica” de mudança, afirmou Bento XVI neste domingo, ao visitar Carpineto Romano, cidade natal do Papa Leão XIII (1810-1903).

A visita apostólica a esta localidade de menos de cinco mil habitantes, situada a 80 quilômetros de Roma, tinha por objetivo recordar o bicentenário do nascimento desse bispo de Roma, cujo nome de batismo era Vincenzo Gioacchino Pecci, quem, entre outras coisas, passou à história por ser o grande pioneiro da doutrina social da Igreja, com sua encíclica Rerum novarum (1891).

O ato central da visita foi a celebração eucarística, praça principal, vincada entre casas e montanhas, tomada por milhares de fiéis.

Durante a homilia, o pontífice recolheu o legado daquele Papa, sublinhando que “na realidade histórica, os cristãos, atuando como cidadãos individualmente ou de maneira associada, constituem uma força benéfica e pacífica de mudança profunda, favorecendo o desenvolvimento das possibilidades próprias da própria realidade”.

“Esta é a forma de presença e de ação no mundo proposta pela doutrina social da Igreja, que busca sempre o amadurecimento das consciências como condição de transformações válidas e duradouras”, disse.

Deus, antes de tudo

Para entender o Magistério de Leão XIII – acrescentou – é necessário compreender que está profundamente ligado à primazia de Deus.

Seguir a Cristo é “comprometedor” e não pode depender de “entusiasmos e oportunismos”.

Deve ser “uma decisão ponderada, tomada após se ter perguntado em consciência: quem é Jesus para mim?”.

“Isso é sempre a base de tudo para todo cristão, incluído o Papa”, disse. Por esse motivo, “sem a oração, quer dizer, sem a união interior com Deus, não podemos fazer nada, como disse claramente Jesus a seus discípulos na Última Ceia”.

“Satisfaz-me considerar todos esses elementos como dimensões de uma realidade única: o amor de Deus e de Cristo, perante o qual não há que antepor nada. E esta primeira e principal qualidade, Vincenzo Gioacchino Pecci assimilou aqui, em seu povoado natal, de seus pais, de sua paróquia”.

Mas há também outro aspecto que deriva sempre do primado de Deus e de Cristo e forma parte da “ação pública de todo pastor da Igreja”: “todo pastor não está chamado a transmitir ao povo de Deus verdades abstratas, mas uma ‘sabedoria’, quer dizer, uma mensagem que conjuga fé e vida, verdade e realidade concreta”.

“O Papa Leão XIII, com a assistência do Espírito Santo, foi capaz de fazer isso em um dos períodos históricos mais difíceis para a Igreja, sendo fiel à tradição e, ao mesmo tempo, enfrentando as grandes questões abertas”.

Nesse sentido, Bento XVI recordou a contribuição que Leão XIII ofereceu ao “caminho da civilização”: “a nova fraternidade cristã supera a separação entre escravos e livres, e desencadeia na história um princípio de promoção da pessoa que levará à abolição da escravidão, assim como a superar outras barreiras que ainda existem”.

Precisamente Leão XIII dedicou à escravidão sua encíclica Catholicae Ecclesiae, de 1890, e a partir dessa luz se entende seu magistério social, “tornado famosíssimo e insuperável pela encíclica Rerum Novarum".

Papa ancião que rejuvenesceu a Igreja

“Em uma época de áspero anticlericalismo e de acesas manifestações contra o Papa, Leão XIII soube guiar e apoiar os católicos pelo caminho de uma participação construtiva, rica de conteúdos, firme nos princípios e capaz de abertura. Um Papa muito ancião, mas sábio e de amplo horizonte, pôde introduzir no século XX uma Igreja rejuvenescida, com a atitude adequada para enfrentar os novos desafios”.

Chegou à sede de Pedro em 1878, após a unificação da Itália e a anexação dos Estados Pontifícios, motivo pelo qual Leão XIII “era ainda um Papa política e fisicamente ‘prisioneiro’ no Vaticano, mas na realidade seu magistério representava uma Igreja capaz de enfrentar sem complexos as grandes questões contemporâneas”.

Bento XVI viajou a Carpineto Romano em helicóptero procedente da residência pontifícia de Castel Gandolfo, para onde regressou ao meio-dia para dirigir a oração do Angelus.

Ao se despedir, o Papa deixou este conselho aos habitantes de Carpineto Romano: “amai-vos como Cristo vos amou e com este gesto sejais sal e luz do mundo. Deste modo, sereis fiéis à herança de vosso grande e venerado conterrâneo, o Papa Leão XIII. E que também o seja toda a Igreja!”.

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